O domingo amanheceu e logo cedo, com ele, veio o sol, poucas nuvens adornando um céu azul claro de verão e muitos pássaros pipilavam seu canto matinal, estridente e animado. De longe podíamos ouvir, vez ou outra, carros passando lentamente pelas ruas desertas. O silêncio imperava na maior parte do tempo naquele amanhecer revigorante. Tudo transparecia calma e até o acordar era diferente dos outros dias. Primeiro esticar um braço, depois lentamente o outro e um bocejo gostoso se fez notar. Aí alongar as pernas indicando que elas iriam se levantar, abrir vagarosamente os olhos, tornar a fecha-los. Olhar de novo, agora com olhos bem abertos e rodopiando o pescoço, buscando todo o ambiente para se certificar aonde está. Em geral estive tão longe em meio a sonhos tão enigmáticos, por onde passei por lugares tão incrivelmente abstratos, que sim, preciso ter a certeza do meu lugar. Quando aterrisso de verdade em terra firme, já bem mais disposta e sabendo quem sou, um próximo passo pode ser dado em direção ao dia mal começado. Então respiro fundo predispondo-me a etapa seguinte.
Mas a decisão de levantar da cama em um domingo qualquer não é tarefa tão rápida assim, requer reflexão e diálogo interno, disposição e uma dose de entusiasmo. Pensar no café da manhã, pode ser uma boa ideia! Quase posso sentir o cheirinho de café coado, o aroma do bolo da véspera e o estalar de alguns ovos caipiras. Cabelos em desalinho vez ou outra recobrindo os olhos ainda inchados, pijama amarrotado e pantufas de antigamente, quem se importa com isso em uma manhã de domingo? Lá vou eu, lá vamos nós. Um “bom dia flor do dia” se ouve em algum lugar qualquer da casa. “Como passou a noite?” também. Mas nunca sei se realmente fui eu que perguntei. Então torno a questionar. “Como dormiu, foi boa a noite?” Repetidas vezes escutei: “mãe, você já perguntou isso” e dou de ombros com carinho, ainda em modo soleca. As vezes escuto apenas um: “foi boa...” e sei - pelo tom da voz - que já me responderam e sabem que não escutei da primeira vez. São também solidários com meu sonolento despertar.
Diante da garrafa térmica a adrenalina parece fazer as honras mesmo antes do café ser totalmente coado. Não sei se é pelo forte aroma que exala por toda a cozinha ou se pela perspectiva do forte e energético sabor que virá depois. Nossa mente é incrível nesta hora! Parto logo um pedaço de bolo com calda para acompanhar o café e, sossegadamente, começo a despertar. Mas... num piscar de olhos ou num flash de luz qualquer, não sei bem dizer porque, de repente me vejo pensando no dia inteirinho como será. Farei isso, faremos aquilo, iremos lá e acolá. Nesta hora penso em correr, brecar meus pensamentos para estar apenas ali, na minha mesa de café da manhã, tomando um simples café com fatia especial de bolo com calda. A consagração dessa vertigem mental se dá justamente quando, inadvertidamente, escuto “o que vamos almoçar hoje?” colocando imediatamente meu domingo dentro de uma to-do list interminável... Domingos desacelerados devem ser respeitados como tal, elevados ao grau máximo do slow down, promovidos ao dia mais revigorante da semana. “O que vamos fazer hoje?” e ter a ousadia de responder “nada!”, numa manhã de domingo, não é de meu feitio... mas até chego a repensar este meu estilo tão, tão acelerado de viver, mesmo em um ensolarado domingo de verão!
E assim termina este pequeno texto contando um singelo momento chamado... Hygge!
Luciana Corrêa – Mixing Things with Love
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