À medida que a noite da quinta-feira vai adentrando a sala de estar e dando licença ao friozinho do inverno iniciam-se todos os preparativos para um possível Happy hour. A mesa é posta na cozinha aguardando o que virá, taças são dispostas caso venhamos a brindar e lenhas começam a estalar buscando suas iluminadas labaredas. Um movimento aqui e outro acolá, descompromissados e descontraídos. Nada está programado, mas como é quinta, então ok para indulgências e consentimentos. Nenhuma festividade marcada, nem um simples cinema ou volta na praça. Não há nada o que se fazer... Então a geladeira é aberta sorrateiramente a procura de acepipe qualquer e com extrema generosidade encontramos coisa que o valha. A maior bandeja é retirada do armário, item fundamental, pois carregará todos os principais apetrechos. E num estalinho qualquer o fogão começa a aquecer a sopa da noite.
Mas é no vai e vem da casa, ao se esbarrar em uma troca rápida de olhares, que aquele quase intencional, mas nada acordado Happy hour, é assentido. “Vamos?” Se, por ventura, a resposta for “hoje não”, todo o cenário vai aos poucos se dissipando da mesma maneira como se compôs, assim como o “então tá...” vai dando lugar a uma simples tigela de sopa escaldante. Mas em geral não! Há claro uma aprovação delituosa com intenções gourmetizantes e etílicas que nos levam até a beira da lareira para, aí sim, nos regalar, confraternizar e nos aquecer. Conversa jogada fora, últimas notícias em destaque, brindamos a tudo e a todos em uma comunhão verdadeira e momentânea. Aquele momento é levado ao máximo da seriedade, num clima de bem estar, afeto e aconchego.
E só quando o fogo amorna, as taças se esvaziam e o noticiário começa é que vamos até a cozinha terminando nossa quinta com goles encorpados de sopa de legumes. Nesta altura as bochechas já estão rosadas, não sei se pelo fogo ou pelo vinho, mas um riso quase solto dá lugar a moleza de dormir. Mas ainda não é hora! Mais uma passadinha para ver o fogo e a TV por perto nos convida para um olho aqui e outro ali. Ao final concordamos que o calor do momento e as luzes vindas da lareira atraem mais do que qualquer novidade vinda de um telejornal noturno. Lareiras e noites de quinta-feira invernais promovem quase sempre encontros como estes, intimistas e festivos, mostrando que a vida sim pode e deve ser contemplada e agraciada.
E assim termina este pequeno texto contando um singelo momento chamado... Hygge!
Luciana Corrêa – Mixing Things with Love
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