O galo mal havia começado a cantar e já um dia inteiro vinha pela frente. O Sol se apresentava solene e impávido, denunciando que o mar, o vento batendo no rosto e a areia fina roçando as canelas dariam o tom daquele dia. Dormir mais um pouco já que eram férias, ou não, espreguiçar-se gostosamente ouriçando-se a galope dos lenções amarrotados? Dúvida pertinente e alguns segundos para pensar. Virar daqui e dali... abrir os olhos, primeiro um, depois o outro, procurando algum sinal. Talvez um cheirinho de café, um tilintar de alguma louça na cozinha, uma janela se abrindo ou uma porta batendo. Nada! Só o silêncio. Lá ao fundo, o galo, sempre ele. A casa adormecia naquele amanhecer fulgurante. Decisão tomada, seria a porta-voz da matina a cantarolar as primeiras notas do dia.
E tão rápida como uma lesma alcanço solitária a cozinha erma. Abro um armário, depois outro, a geladeira, espio a janela, abro algumas, manhosamente... Procuro a panela, depois o coador, ai o pó, encho de água, coloco a ferver. No decorrer de alguns minutos lá vem ele a invadir e embriagar-me de aromas familiares. O café! Nada melhor para começar um dia, mas nada pior para termina-lo, o café é item popular, indispensável e polêmico. Fora o bem vindo cafezinho, o que mais combinaria com aquele momento? Talvez um bolo rápido de se fazer, mais rápido ainda de se comer, pelo fresco sabor ao sair do forno. De novo abrir o armário, a geladeira e o fogão. Bater com as mãos mesmo, batedeira faria muito barulho, atrapalhando o silêncio matutino. Pré-aquecer o forno abrindo devagar para apreciar, com calma, o ranger da porta. Mais alguns minutos e outro aroma surge e agora vem também com os primeiros barulhinhos de gente acordando. Longos espreguiçares, profundos suspiros, gostosos bocejos e a primeira porta se abrindo. “Bom dia flor do dia!”
Minutos mais além a mesa se enche com todo tipo de gente. Tem gente descabelada, gente de pijama, gente já de maiô, gente alegre e gente sonolenta. Família! Olhos procuram o que fazer, notam com surpresa e se enchem ao avistar aquele bolo recém-nascido do forno. A primeira fatia inicia o festim e dela partem uma fumacinha acolhedora, uma calda vulcânica e um aroma inesperado. Sem que se perceba se foi pelo calor das emoções ou pelo sonolento despertar, aquele bolo acaba no instante que surgiu, assim como o “ahhhhh faz outro?” ecoa de cada uma das vozes daquela mesa. Num minuto a mesa perde toda a graça com o findar da refeição e com a expectativa de tudo o que está por vir naquele belo dia de verão!
E assim termina este pequeno texto contando um singelo momento chamado... Hygge!
Luciana Corrêa – Mixing Things with Love
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