A combinação me pareceu perfeita, a mesma proporção de claras para as gemas que deveria usar depois. Logico que cada uma seria destinada à sua receita, mas as duas seriam necessárias para a mesma sobremesa: a tão amada Pavlova com o curd de frutas. Sim, oito ovos me renderiam 8 gemas e 8 claras, se tudo desse certo e se essa matemática fosse sempre exata. Caso não desse, teriam mais alguns ovos extras, em temperatura ambiente, para serem substituídos prontamente. O que poderia dar errado? Uma gema que se parte no momento da abertura da casca? Puxa vida, quanta falta de sorte nesta hora! Um odor esquisito denunciando que os ovos não estariam tão novos? Isso pode acontecer... Um ovo podre? Imperdoável! Sempre bom ter cuidado ao abrir os ovos, pensei, nunca se sabe o que se pode encontrar. Mas vamos lá, nada grave ou difícil, técnicas apuradas e três bowls separados. Um para as gemas, outro para as claras e o terceiro para abrir ovo a ovo. Há que se ter cuidado nesta hora, bater o ovo na mesa com carinho e eficiência, nem tão forte e nem fraco demais. Tec, tec, tec e pronto! Deve abrir. Ter atenção ao balanço e ao vai e vem logo que se abre. Gema pra cá, gema pra lá e ploft, a clara escapa com perfeição. Mas, vamos combinar? Perfeição, perfeição mesmo, é quando a gema cai intacta. Ahh aí é bonito demais de se ver!
Fomos todos para a batedeira, claras em primeiro lugar, depois o açúcar, devagarinho, colher a colher, como uma chuvinha de verão daquelas bem fininhas. Ele, o açúcar, não se importa em cair pesadamente e se misturar com desmazelo. Mas elas, as claras, estas sim, se importam e muito! Posso quase ouvi-las dizer "venham grãozinhos, mas sejam gentis, mansos, incorporem com cuidado, pouco a pouco, até que eu os dissolva por completo adocicando tudo por aqui." Boto um olho no açúcar e outro no relógio, vou despejando com cautela até que a hora me avisa o momento de desligar a batedeira. Rapidamente nos dirigimos a mesa dando forma a Pavlova. Nós sabemos muito bem como a queremos! Redonda, gorducha, cheia de dobrinhas verticais e paralelas, mais abaulada em baixo, terminando mais fina em cima, quase como uma gota de chuva. Mas não é bem assim! Ela se faz de rogada a danada da Pavlova. Sonsa que só ela, me perdoem a expressão, até fica do jeitinho que a moldamos. Comporta-se lindamente, entra no forno como uma rainha, fica plena por algumas horas. Depois de tantos minutos ou após um punhado de horas, aí não se sabe mais o que acontece. Sua majestosa forma, tão linda e arredonda, se volta contra mim. Só pode ser isso. Reviram-se, entortam, formam fendas, abrem-se aonde não deveriam. Nossa senhora, o que que é isso?
Volto lá atrás e penso se os ovos foram batidos demais e com demasiada velocidade. Ou então ao derramar o açúcar, se me apressei na empolgação. Será que foram os minutos batendo que me escaparam a lembrança? Ou será que o calor do forno a acalentou por demais? Tudo pode ter acontecido naquela hora fatídica. A impressão que me dá é que a Pavlova tem uma força interior que sai como um vulcão explodindo em ar quente e é justamente este ar que a faz desmoronar... A Pavlova tem história pra contar, é antiga que ela só, mas também, ao ser feita, rende muitas histórias, nem sempre felizes e bem sucedidas justamente quando teima em não colaborar. Ela tem seus melindres! De repente me lembro das gemas. Estas irão formar o curd, que irá envolver a Pavlova, adocica-la com um azedinho só dele. Talvez a acalmar em sua desassossegada existência, talvez. Que delícia será a combinação dos dois. Uma: doce, suave, plena e voluntariosa. Outro: doce, porém azedinho, brilhante e macio. Um não vive sem o outro, assim como a gema não vive sem a clara. Agora, encontrar bom uso para os dois, aí é muita alegria! A gente até se esquece de todos os perrengues que ela, a Pavlova, nos fez passar. Ahhhhh uma Pavlova!
E assim termina este pequeno texto contando um singelo momento chamado... Hygge!
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Luciana Corrêa – Mixing Things with Love
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