Não saberia dizer em que momento da festa ele acontece, mas certamente diria que se dá mais para o final dela. Todos se levantam e caminham para a mesa do bolo ao menor anúncio de “vamos cantar parabéns?”. Olhares curiosos procuram o aniversariante, outros ávidos buscam o bolo, alegres sorrisos se emolduram, uma palminha aqui, outra ali, denotando o instante de inquietação. Todos se perfilam até circularem à mesa procurando suas posições. Os mais altos ficam para trás, as crianças em geral perto do bolo, disputando o melhor lugar. Quando todos já se encontram preparados, só aí a vela é acesa. Mas nem sempre ela colabora na primeira tentativa ao se apagar repetidamente numa teimosia constrangedora. Mas quando se acende todos se iluminam descontraidamente e repercute o coro de vozes. Todos em concordância desejando “Parabéns a você! Nesta data querida...”.
Neste momento as demais luzes estão apagadas, apenas a luz da vela reflete com graça a feição do homenageado. Este em geral sorri, olha daqui e dali procurando cada um dos olhares. Algumas vezes acompanha as palmas fervorosas, parando vez ou outra para contemplar. Outras vezes se desconcerta desengonçadamente sem saber aonde colocar os braços discretos e tímidos. Alguns dançam, alguns rebolam, outros tornam este momento especial em algo mágico e eterno! Tem de tudo um pouco. Neste momento todos estão desejando “muita felicidade e muitos anos de vida...” em uma afetiva vibração que ecoa sonoramente aos ouvidos e ao coração do aniversariante, identificando o ápice de festividade e contentamento.
E como a se sentir em um circo mágico ou em meio a uma brincadeira de criança, não sei bem porque toma outras direções ao se recitar “é pique, é pique, é pique, é pique, é pique, é hora, é hora, é hora, é hora, é hora”. Mas só quando você escuta (e canta!) o “ra-tim-bum” é que percebe a grandiosidade de virar criança naquele instante, de ser afetivo, de não se importar com o ridículo das coisas ou em parecer cafona ou bonachão. Nada mais importa. E aí explode em coro solene o nome dele, do homenageado, demonstrando estar ali por ele, só por ele, mais ninguém. Palmas, algazarra, gritaria e sorrisos aos turbilhões. “Com quem será, com quem será?” Ninguém saberia dizer da onde veio essa outra pergunta que nunca fez parte do ritual tradicional. Mas todos querem, de repente, saber “com quem será que o aniversariante vai se casar”. Curioso ou não, o “parabéns a você” é sempre igual: festivo, alegre e barulhento. Hey!
E assim termina este pequeno texto contando um singelo momento chamado... Hygge!
Luciana Corrêa – Mixing Things with Love
Curiosidade sobre esta música tão tradicional:
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